Carlos Ferreira é cirurgião geral do Hospital da Luz Lisboa e, nas férias, tem participado em missões humanitárias da Cruz Vermelha e dos Médicos Sem Fronteiras em países em guerra. “É sempre um desafio apelativo. Fica-se contagiado pelo sofrimento das pessoas nestes sítios e porque ali fazemos mesmo muita diferença”, explica numa entrevista à SIC , durante o programa Casa Feliz, de 4 de setembro. O cirurgião confessa que a experiência que mais o marcou foi a do primeiro país em que esteve, o Sudão do Sul, em 2014: “Quando regressei, pensei ‘nunca mais vou fazer isto!’. Porque, do ponto de vista psicológico, é um stresse permanente e diário, apanhamos vítimas que chocam qualquer um. Mas depois fiquei a pensar nas pessoas que lá ficaram e nos colegas que trabalharam comigo… e decidi que tinha de voltar”. Depois do Sudão, seguiram-se missões em cenários de guerra no Congo, Iémen e Iraque. “Aproveito as férias e o tempo que o hospital também me dá (porque o hospital percebe e favorece isso).” Ao longo da entrevista à SIC, Carlos Ferreira explica bem as diferenças e as condições em que ele e outros profissionais têm de trabalhar: “Aqui, trabalho num hospital multidisciplinar, com equipamentos de ponta e, de repente, vou para sítios onde não há sequer eletricidade e água canalizada. Aqui, fazemos cirurgia robótica e cirurgias oncológicas, lá deparamo-nos com múltiplas vítimas e múltiplas feridas, de armas de guerra, bombas, minas, etc. É um tipo de cirurgia que não existe no Ocidente”. Em Mossul (Iraque), Carlos Ferreira não esquece o caso de uma mulher que perdeu quatro filhos quando a sua casa foi bombardeada, além de ela própria e um quinto filho terem ficado feridos: “Quando teve alta, ela sorria e eu perguntei-lhe porquê. ‘Estou viva e tenho um filho para cuidar’, respondeu-me”. Carlos Ferreira na SIC