Isabel Galriça Neto , diretora da Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital da Luz Lisboa, participou no debate promovido pela SIC Noticias no âmbito do projeto ‘Vamos falar de cancro’, onde explicou a importância do acesso precoce dos doentes aos cuidados paliativos e chamou a atenção para a “discriminação” que continua a existir no nosso sistema de saúde, relativamente ao acesso a estes cuidados. No debate, transmitido em streaming nas redes sociais da SIC Notícias, a especialista começou por dizer que “a pandemia prejudicou muito o acesso aos diagnósticos e tratamentos para aqueles que não se curam” , explicando: “Os médicos e enfermeiros de cuidados paliativos foram desviados para outras áreas assistenciais, em particular para dar resposta aos doentes com COVID-19, deixando-se assim esquecidos os doentes que não se curam e precisam de cuidados paliativos”. Galriça Neto disse, por isso, que “a pandemia teve um impacto muito negativo nos cuidados paliativos, criando essa situação um prejuízo enorme na qualidade de vida das pessoas com cancro em final de vida”, entre outros doentes que necessitam destes cuidados. “Quer as pessoas se curem, quer não se curem, precisam de ser tratadas, ou seja, precisam de uma resposta dos cuidados de saúde. Em Portugal, essa resposta é escassa” e em tempo de pandemia “foi ainda mais limitada”, disse ainda. A diretora da Unidade de Cuidados Paliativos do HLL defendeu, por outro lado, que “um sistema de saúde moderno tem de dar resposta à doença aguda, mas também a todos aqueles que não se curam”. E deu o exemplo do serviço que dirige: “Os cuidados paliativos apoiam os doentes muito precocemente, quando ainda estão a fazer tratamentos. Isto significa que trabalhamos em articulação permanente com os nossos colegas da oncologia, radioterapia, radiologia, medicina interna, medicina geral e familiar… E, com este trabalho precoce, quem ganha são os doentes e as suas famílias porque aumenta significativamente a sua qualidade de vida. E ganha também todo o sistema, porque estamos a tratar melhor estas pessoas e de forma mais eficiente”. Estes são os cuidados “mais eficientes, menos caros e mais humanizados”, reforçou Isabel Galriça Neto. A médica reforçou a mensagem que sempre faz questão de transmitir: “Os cuidados paliativos não servem para apressar a morte, não devem ser cuidados só para os últimos dias de vida” . E deu mais uma vez o exemplo da unidade da qual é responsável no Hospital da Luz Lisboa: “Temos uma consulta externa de cuidados paliativos, recebemos na unidade cerca de 600 doentes por ano e damos alta a cerca de 60% dos nossos doentes. É esta que deve ser a realidade dos cuidados paliativos”. O debate, com o título ‘Depois do cancro’, está disponível na página e nas redes sociais da SIC Noticias e contou ainda com a participação de uma doente oncológica, Cláudia Fraga, que teve cancro do ovário. O Depois (do Cancro)