Os “pecados capitais” que impedem um adequado diagnóstico e tratamento da endometriose nas mulheres é o tema de um artigo que acaba de ser publicado no Journal of Clinical Medicine, da autoria de 10 dos maiores especialistas mundiais nesta doença, entre os quais António Setúbal , diretor do serviço de Ginecologia-Obstetrícia do Hospital da Luz Lisboa. As reflexões feitas no artigo têm por base “a soma das experiências individuais dos autores” e de outros especialistas com dados publicados, abrangendo “mais de 50 mil tratamentos”. O artigo – sob o título “Os 10 ‘pecados capitais’ no diagnóstico e tratamento clínico da endometriose: uma abordagem Bayesiana” – foi escrito em coautoria por Philippe R. Koninckx, Anastasia Ussia, Stephan Gordts, Jörg Keckstein, Ertan Saridogan, Mario Malzoni, Assia Stepanian, António Setúbal, Leila Adamyan e Arnaud Wattiez. Todos eles são cirurgiões, trabalham em centros hospitalares de referência no tratamento da endometriose e trataram já cerca de 35 mil mulheres com esta doença. Baseados na sua experiência e na análise de outros casos que chegaram ao seu conhecimento, identificam neste artigo “os principais erros/problemas envolvidos no tratamento da endometriose”. As conclusões, acrescentam, também “refletem as discussões dos autores durante eventos, reuniões e cirurgias ao vivo”. Entre os ‘pecados capitais’, referem, por exemplo: Considerar-se a endometriose uma doença homogénea; A imprecisão diagnóstica nos exames clínicos e de imagem. O recurso a terapia médica para evitar a cirurgia em cenários que requerem mesmo intervenção cirúrgica; O dogma da excisão completa da endometriose. A endometriose é uma doença crónica, caracterizada por desenvolvimento, fora do útero, de tecido semelhante ao do revestimento interno deste. Nas várias localizações extrauterinas, esse tecido sofre transformações semelhantes às que ocorrem no útero durante o ciclo menstrual, que se traduzem, mais frequentemente, em dor, infertilidade e complicações graves com outros órgãos. Estima-se que a endometriose afeta entre 10% a 15% das mulheres em idade fértil, mas a doença é muitas vezes subdiagnosticada ou então diagnosticada tardiamente, devido à tendência para desvalorizar as dores e o mal-estar que provoca, sobretudo durante o período menstrual. Leia o artigo: The 10 “Cardinal Sins” in the Clinical Diagnosis and Treatment of Endometriosis: A Bayesian Approach