Guilherme Castela , coordenador de Oftalmologia do Hospital da Luz Coimbra, concluiu o doutoramento em Ciências da Saúde, no passado dia 5 de fevereiro, na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Na sua tese – que tem por título “Eficácia da quimioterapia super-seletiva da artéria oftálmica (QSAO) no tratamento do retinoblastoma intraocular” –, Guilherme Castela faz uma caracterização da incidência do retinoblastoma em Portugal e analisa a eficácia dos respetivos tratamentos de primeira linha. Embora raro, o retinoblastoma é o tumor intraocular mais frequente nas crianças. Com as estratégias de tratamento atualmente disponíveis, é curável se for diagnosticado em idades precoces. Os trabalhos de investigação de Guilherme Castela tomaram por base os casos acompanhados no Centro de Referência Nacional em Onco-Oftalmologia, em Coimbra, e desenvolveram-se em duas fases: Publicação de revisões da literatura existente, nas quais faz o relato de todo o espectro clínico do retinoblastoma e resume as evidências científicas sobre os protocolos de quimioterapia intra-arterial (QIA), a primeira linha de tratamento da doença. Estudo de crianças portuguesas e originárias dos PALOP (Países Africanos Oficiais de Língua Oficial Portuguesa) diagnosticadas com retinoblastoma e os resultados do Centro de Referência Nacional com o uso de QIA. Entre as principais conclusões da tese, que mereceu a aprovação do júri por unanimidade, salientam-se as seguintes: A incidência global portuguesa de retinoblastoma é de 4,04 por 100,000 nados vivos, em linha com a de outros países desenvolvidos. 80% dos pacientes apresentam-se no momento do diagnóstico com leucocoria ou estrabismo, isoladamente ou em associação. Os restantes 20% têm formas atípicas, estão associados a fases mais tardias de diagnóstico e têm pior prognóstico. A QIA tem 78,6% de eficácia (preservação do globo) e sobrevida global de 100%. Tem melhores resultados em estadios mais precoces, mas é eficaz e segura mesmo em estágios mais avançados de tumores intraoculares e também no tratamento de tumores recorrentes e recidivantes. “Esta foi a primeira caracterização demográfica, genética e clínica da população portuguesa diagnosticada com retinoblastoma. O grande objetivo é que este trabalho contribua para o conhecimento global do retinoblastoma, melhorando os resultados clínicos nestes doentes e que também permita a elaboração de uma estratégia nacional mais completa e individualizada”, explica Guilherme Castela. Foram orientadores desta tese Miguel Castelo Branco (Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra - FMUC), Zélia Corrêa (Bascon Palmer Eye Institute de Miami, EUA) e Joaquim Neto Murta (FMUC). O júri das provas de doutoramento foi constituído por Eunice Carrilho (FMUC), Carlos Marques Neves (Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa), Manuel Falcão (Faculdade de Medicina da Universidade do Porto), Joaquim Neto Murta, Rufino Silva (FMUC) e Rui Proença (FMUC).