Um projeto inovador, no âmbito da sustentabilidade energética de grandes hospitais, juntou a multinacional Siemens à Luz Saúde. Com o objetivo de ‘reduzir a pegada de carbono associada aos equipamentos de ressonância magnética’, o ActGreen já está a dar resultados e promete poupanças importantes nos consumos hospitalares de eletricidade. “A importância do ActGreen reside na sua capacidade de gerar valor ambiental, económico e operacional de forma simultânea. Permite uma poupança energética significativa, reduz emissões associadas ao consumo de eletricidade por exame, e prova que é possível fazer transição energética nos cuidados de saúde sem comprometer a qualidade assistencial . É um projeto escalável, replicável e alinhado com os princípios ESG, traduzindo o compromisso do grupo com uma saúde mais sustentável e preparada para os desafios do futuro”. Gonçalo Leal é diretor de Diagnóstico por Imagem da Luz Saúde e foi o responsável pelo desenvolvimento deste projeto nas unidades Hospital da Luz. Nesta entrevista, explica o que é, como nasceu e que resultados já foram conseguidos com a implementação do ActGreen, em parceria com a Siemens Healthineers. O que é o ActGreen? Qual a importância deste projeto? O ActGreen é um projeto desenvolvido pelo Grupo Luz Saúde com o objetivo de reduzir a pegada de carbono associada aos equipamentos de Ressonância Magnética (RM) , um dos sistemas de maior consumo energético em ambiente hospitalar, operando 24/7 com requisitos térmicos e magnéticos exigentes. Através da implementação de sistemas automatizados de gestão energética, o projeto permite ligar e desligar componentes dos equipamentos de forma inteligente, otimizando o seu funcionamento fora do horário clínico e eliminando consumos desnecessários. Esta automação reduz a dependência de tarefas manuais por parte dos técnicos, padroniza a operação e assegura ganhos consistentes de eficiência. A importância do ActGreen reside na sua capacidade de gerar valor ambiental, económico e operacional de forma simultânea. Permite uma poupança energética significativa, reduz emissões associadas ao consumo de eletricidade, e prova que é possível fazer transição energética nos cuidados de saúde sem comprometer a qualidade assistencial. É um projeto escalável, replicável e alinhado com os princípios ESG, traduzindo o compromisso do grupo com uma saúde mais sustentável e preparada para os desafios do futuro. Sustentabilidade é a palavra-chave do projeto. De que modo, neste caso concreto, ela se relaciona com a atividade de equipamentos de imagiologia? Neste caso, a sustentabilidade está profundamente ligada à forma como os equipamentos de imagiologia são selecionados, operados e geridos no contexto hospitalar . O projeto ActGreen demonstra que a redução do consumo energético em equipamentos de alto desempenho, como os de Ressonância Magnética, é não só possível como desejável, sem comprometer a qualidade assistencial. Esta abordagem está também alinhada com a necessidade de racionalizar o uso de recursos escassos, como o iodo, utilizado em meios de contraste, ou o hélio líquido, fundamental no funcionamento das RM, cuja escassez global exige práticas clínicas mais responsáveis . Além disso, a sustentabilidade aplica-se à gestão do capital humano, uma vez que equipamentos mais eficientes e processos otimizados contribuem para ambientes de trabalho mais atrativos e tecnologicamente avançados, o que é essencial para atrair e reter profissionais diferenciados num setor altamente competitivo. Quais são os resultados obtidos até agora? Até à data, o ActGreen foi implementado em dez equipamentos de Ressonância Magnética , num universo de 38 equipamentos que o grupo detém. A estimativa de poupança energética anual ronda os 25 mil euros para os 10 equipamentos , valor que poderá triplicar com a extensão do projeto ao restante parque instalado. Esta poupança resulta da redução significativa de horas de funcionamento desnecessário dos equipamentos, agora automatizados. Os resultados demonstram que é possível alcançar eficiência energética real, sem impacto na atividade clínica ou na experiência do doente. Qual o impacto concreto que teve este projeto na operação hospitalar? O impacto do ActGreen na operação hospitalar foi positivo e sem qualquer perturbação na atividade assistencial. A automatização dos processos libertou os técnicos de tarefas rotineiras, como o ligar e desligar manual dos equipamentos no início e fim de cada dia, melhorando a eficiência da operação e garantindo maior consistência no uso dos sistemas. Para além disso, o projeto reforçou a padronização de procedimentos entre unidades e serviu como um exemplo de como pequenas alterações tecnológicas podem gerar ganhos operacionais significativos com pouco esforço de implementação. Como foi feito o envolvimento dos profissionais de saúde que trabalham nesta área e com este equipamento? Numa fase inicial do projeto ActGreen, optou-se por um envolvimento muito reduzido dos profissionais de saúde, nomeadamente dos técnicos de radiologia, com o objetivo de obter uma avaliação realista e não condicionada dos padrões de consumo energético dos equipamentos de Ressonância Magnética. A prioridade era perceber com rigor o comportamento energético do parque instalado em condições operacionais normais, sem interferência externa. Após a primeira fase de implementação e validação técnica do sistema automatizado, foi então promovido o envolvimento ativo dos técnicos responsáveis pelas unidades, aos quais foi apresentado o projeto em detalhe, os seus objetivos, os resultados preliminares e as alterações operacionais necessárias. Esta segunda fase foi essencial para garantir a apropriação do projeto pelas equipas no terreno, assegurando uma transição suave, uma comunicação clara e uma aplicação consistente dos novos procedimentos. Os nossos doentes sentem de algum modo o impacto do ActGreen na sua relação com o hospital? Embora os doentes não sintam alterações diretas na realização dos exames, uma vez que os protocolos clínicos e a qualidade dos procedimentos se mantêm inalterados, o projeto ActGreen tem um impacto indireto na sua relação com o hospital. Ao melhorar a eficiência operacional, reduzir custos e afirmar a instituição como promotora ativa de práticas sustentáveis, contribui-se para reforçar a confiança, a reputação e o compromisso ambiental do grupo perante os seus utentes. Este tipo de iniciativas reforça a perceção positiva do hospital como organização moderna, responsável e alinhada com os desafios do futuro. Porquê a Siemens Healthineers como nossa parceira neste projeto? A Siemens Healthineers foi o parceiro neste projeto por ser o fornecedor com maior representatividade no parque instalado de Ressonância Magnética do Grupo Luz Saúde. Esta presença significativa facilitou a implementação à escala, assegurando um impacto mais abrangente e imediato. No entanto, importa sublinhar que o ActGreen foi concebido desde o início como um projeto agnóstico em relação ao fabricante, o que significa que pode ser replicado em equipamentos de outros fornecedores. A escolha da Siemens assentou numa relação pré-existente de parceria estratégica, na capacidade técnica demonstrada e na facilidade de integração com os sistemas existentes. Como se enquadra este projeto no contexto da estratégia de sustentabilidade da Luz Saúde? O projeto ActGreen está totalmente alinhado com a estratégia de sustentabilidade do Grupo Luz Saúde , que tem como prioridade a integração dos princípios ESG na atividade clínica e operacional. Este projeto é um exemplo claro de como a tecnologia pode ser aplicada de forma pragmática para alcançar objetivos ambientais, económicos e sociais. Contribui para a redução da pegada de carbono, promove a eficiência energética, melhora a operação dos serviços e envolve ativamente os profissionais de saúde. É, por isso, uma iniciativa que traduz em ações concretas o compromisso da organização com um sistema de saúde mais sustentável, resiliente e orientado para o futuro.